Entre o “quase” e o “algo”: Um amor não definido
Assim como os melhores filmes são os que nunca foram produzidos, os maiores amores são aqueles que nunca foram perpetuados além da ideia

Alguns dizem que o Quase Algo é o mais marcante dos amores, já outros, afirmam com convicção que isso não existe. Os argumentos divergentes são válidos, é claro, o primeiro diz que todas as paixões devem ser vividas e o segundo afirma de forma realista e prática que se esse algo é um quase, então ele não é, logo não se tornou coisa alguma. Quando comecei este texto no início da semana, a ideia era refutar a primeira visão do assunto, totalmente sentimental e idealista, mas assim como Andie Anderson mudou o rumo de sua coluna, eu também senti que o que eu estava escrevendo não parecia certo após os acontecimentos dos últimos dias.
O amor e suas formas nem de longe é um assunto pouco discutido, seja pela ciência, filosofia ou na arte, afinal, é o sentimento que move o ser humano. Na mitologia grega, Eros e Ágape representam a forma de amor romântico e o amor espiritual, respectivamente. Enquanto o amor de Ágape representa algo universal, sem interesse de algo em troca e empático, um amor puro; o amor de Eros é prazeroso, possessivo, apaixonado e potencialmente descontrolado, este, é o qual se encaixa melhor em nosso tema.
Um Quase Algo se define (ou tentamos definir) como uma relação imprecisa, geralmente vinda de um sentimento não discutido ou não recíproco, é a pessoa que você quase engatou um namoro ou tiveram uma relação rasa em que uma das partes queria mergulhar mais a fundo. O fato é que todos os “quase algo” tem seu término no ponto alto, ficando inacabado e incerto o que aquilo se formaria - daí é que vem a sensação de ser mais doloroso superar esse tipo de relação - é o pensamento sobre as possibilidades que acarreta essa dor. A questão é que essas possibilidades que transformariam o quase em algo não são reais, apenas uma idealização roteirizada dos nossos desejos.
Há quem diga que devemos experimentar e discutir todos esses amores, rasos ou não, breves ou não, muito sentidos ou não. Eu gostaria de poder refutar a ideia, mas é nesses “amores quase” que aprendemos sobre os nossos sentimentos e crescemos, não parece certo afirmar que o Quase Algo não existe, já que dessa forma, invalidamos a paixão confusa, a euforia, o luto do término sem ter de fato começado e principalmente, ignoramos o frio na barriga em um reencontro inesperado. Viva isso, se tiver coragem o suficiente - e é preciso ter! - converse, se apaixone, sofra o quanto for preciso e aprenda com o que não se perpetuar, pois se você não sangrar, nunca irá crescer.
O amor é complexo e sentido de uma maneira diferente por cada um, é totalmente idealista e não iremos conseguir categorizar nossas paixões ou amores por meio de uma fórmula matemática nesse texto de 4 mil caracteres. Na ideia de superar o que de perto foi quase nada e escrever este texto, li livros, teorias, fiz uma profunda pesquisa de opiniões e até encontrei um texto da Folha de S. Paulo que toca nossos corações, e ainda assim, não consegui uma definição, pessoal ou padrão, apenas consigo afirmar que iremos passar por esse amor e mudaremos com ele, de que forma, eu não posso afirmar.
“Nada tem que dar certo
Nosso amor é bonito
Só não disse ao que veio
Atrasado e aflito
E paramos no meio
Sem saber os desejos
Aonde é que iam dar
E aquele projeto
Ainda estará no ar?”
Eclipse Oculto - Cetano Veloso
Apesar de ter me rendido a ideia da existência do Quase Algo e entendido a importância de não negar ou lutar contra, ainda argumento que colocar todas essas questões à mesa nem sempre é fácil, falar naturalmente sobre os seus desejos e discutir sobre relacionamentos pode ser um desafio, experimentar o incerto pode ser assustador pelo medo do real não superar as expectativas criadas em cima do outro. Mas eu não quero a melancolia eterna nem a sensação de algo interrompido para sempre em minha vida, então afirmo: o incerto não é inexistente, ele é necessário, empolgante, dramático, talvez um pouco egoísta e precisa ser encarado, discutido, vivido e superado.